As fibras musculares podem ser classificadas por meio de sua propriedade contráctil e por sua coloração: fibras lentas, fibras vermelhas ou do tipo I, e fibras de contração rápida, branca ou do tipo II.
As estruturas que compõem os músculos são denominadas fibras musculares. São elas que, através de um intricado processo bioquímico e mecânico, se encurtam, produzindo movimentos. No entanto, a musculatura esquelética não possui apenas um único tipo de fibra muscular. Através de uma técnica de biópsia que "colore" histoquimicamente as fibras musculares, pesquisadores puderam diferenciar dois tipos de fibras musculares: as de contração lenta (CL) e as de contração rápida (CR). As fibras CL são também denominadas vermelhas pois, ao serem "coloridas", se mostram avermelhadas pois são ricas em mioglobina (um composto que armazena oxigênio, dentre outras funções). Já as fibras CR não alteram a sua coloração e, portanto, são também denominadas fibras brancas pois estas são pobres em mioglobina.
Fibras de Contração Lenta: as fibras CL possuem características contráteis de caráter lento, ou seja, se encurtam mais lentamente. Porém não se iluda, as fibras CL se contraem em cerca de 90-140 milisegundos, ou seja, muito mais rapidamente do que até mesmo um piscar de olhos! Metabolicamente, são dotadas de muitas mitocôndrias (organelas responsáveis pelo metabolismo aeróbio), enzimas aeróbias e capilares sanguíneos (micro-vasos sanguíneos que facilitam a perfusão de oxigênio pelos músculos). Por isto, são dotadas de uma alta capacidade para oxidar (queimar) gorduras, carboidratos e até mesmo ácido láctico.
Fibras de Contração Rápida: as fibras CR podem ser subdivididas em dois subtipos: fibras CR tipo A (IIA) e fibras CR tipo B (IIB). Fibras IIA possuem características contráteis rápidas, ou seja, se contraem rapidamente (40-90 milisegundos) mas são dotadas de características metabólicas semelhantes às fibras CL. Possuem uma capacidade oxidativa razoável, inferior à CL mas que pode aumentar consideravelmente. No entanto, seu verdadeiro potencial está no metabolismo anaeróbio de média duração (1-3 minutos). As fibras IIA são capazes de gerar energia independentemente da presença de oxigênio, produzindo como subproduto de seu trabalho o ácido láctico. Fibras IIB são chamadas de verdadeiras fibras de contração rápida pois sua velocidade de contração é rápida (40-90 milisegundos) e suas propriedades metabólicas possuem um baixo caráter oxidativo e um alto potencial para o fornecimento de energia de curta (1-50 segundos) e média (1-3 minutos) duração.
Funcionamento dos diferentes tipos de fibras musculares no nosso dia-a-dia:
As fibras CL são recrutadas em primeiro lugar, independentemente da intensidade do exercício. Caso haja necessidade de um fornecimento rápido e potente de energia, fibras adicionais do tipo IIA serão recrutadas. Somente em níveis máximos ou quase máximos é que recrutamos as fibras IIB. A existência de diferentes tipos de fibras musculares nos permite que executemos as mais diversas atividades motoras de uma maneira mais eficiente. Por exemplo, quando corremos em velocidade máxima recrutamos todos os tipos de fibras, principalmente as do tipo IIB. No entanto, as fibras IIB entram rapidamente em fadiga e caso quiséssemos continuar correndo, seríamos obrigados a reduzir a velocidade pois as fibras IIA passariam a ser preferencialmente recrutadas. Apesar de possuírem um alto potencial energético, este é ainda assim inferior à potência das fibras IIB. Não demoraria muito e rapidamente sentiríamos uma enorme sensação de fadiga, nos obrigando a reduzir ainda mais a velocidade. Neste caso, as fibras CR passariam a ser recrutadas preferencialmente. Inteligentemente, estas fibras utilizam seu alto potencial oxidativo para queimar preferencialmente as gorduras e ácido láctico que foi acumulado durante os momentos anteriores do exercício. Somente assim seria possível continuar correndo sem esgotar as reservas limitadas de carboidratos que se encontram estocadas em nossos músculos. Esperamos que este texto tenha sido interessante e elucidativo. Caso deseje obter informações adicionais, consulte-nos. Teremos o maior prazer em atendê-lo. Bons treinos e até o próximo texto do mês.
Quadro 01 :
Nomenclatura variada dos tipos de fibras | Característica |
Tipo I | Resistência |
Vermelhas | |
Tônicas | |
Lentas | |
Slow twitch fibers (ST) | |
Tipo II | Força e velocidade |
Brancas | |
Fásicas | |
Rápidas | |
Tipo II A – rápida oxidativa | |
Tipo IIB – rápida glicolítica | |
Fast twitch fibers (FT) |
Quadro 02:
Tipos de fibras musculares | |
Tipo I (Resistência) | Subtipo |
I C | |
Tipo II (Força e velocidade) | Subtipos |
II A* | |
II B | |
II C | |
II AB | |
II AC |
Chiesa;1999,Fleck & Kraemer;1999, Bacurau;2000.
Os subtipos de fibras musculares IIA*, podem ser classificados como fibras intermediárias; Ästrand; 1980, pág 43 Howley & Powers; 2000, pág 137, porque possuem características mistas entre as fibras do Tipo I (resistência) e do Tipo II (força), veja quadro 03.
Quadro 03 :
Características das fibras musculares | |||
Característica | Tipo I (contração lenta) (resistência) | Tipo IIA (contração rápida) (glicolítica oxidativa) (intermediária) | Tipo IIB (contração rápida) (glicolítica) (força) |
Velocidade de contração | Lenta | Rápida | Rápida |
Capacidade anaeróbia | Baixa | Moderada | Alta |
Capacidade oxidativa | Alta | Moderada | Baixa |
Estoque de triacilgliceróis | Alto | Moderado | Baixo |
Estoque de glicogênio | Moderado | Moderado | Alto |
Volume de mitocôndrias | Grande | Moderado | Pequeno |
Enzimas oxidativas | Alta | Moderada | Baixa |
Enzimas glicolíticas | Baixa | Moderada | Alta |
Capilaridade | Elevada | Moderada | Reduzida |
Adaptado Ästrand; 1980, Saltin e cols in Bacurau;2000, Howley & Powers; 2000. Platonov; 2003.
O treinamento de força provoca transformação dentro de um determinado subtipo de fibra muscular sendo uma adaptação comum em função do tipo e também da duração do treinamento. Provavelmente a transformação das fibras musculares dá-se apenas de forma gradual dentre os subtipos de fibras e não diretamente de um tipo para outro. "Uma fibra do Tipo IIb não pode ser diretamente convertida em Tipo I , devendo antes ser convertida numa fibra Tipo IIa". Howley & Powers; 2000.
Segundo Pette; 1980, Rayment; 1993, Staron; 1989 in Howley & Powers; 1997; 2000, o treinamento de força e o treinamento de endurance acarretam a conversão das fibras rápidas em fibras mais lentas, ou seja quando o músculo é submetido a treinamento há uma transformação das fibras do Tipo IIb para o Tipo IIa, esta transformação é considerada uma transformação do tipo fibras rápidas para fibras lentas, veja quadro 04.
Quadro 04 :
Treinamento com exercícios de força | ||||||||
? | ||||||||
I | IC | IIC | IIAC | IIA | IIAb | IIAB | IIaB | IIB |
É necessário mais estresse oxidativo no treinamento de resistência aeróbia. | * | ** |
Fleck & Kraemer;1999.
*Ponto final para o treinamento de força pesado.
*O levantamento de uma carga externa ativa um processo de transformação das fibras Tipo IIB em Tipo IIA.
Segundo Kraemer;1999, após o treinamento destinado ao desenvolvimento da força, verifica-se uma redução drástica das fibras do Tipo IIB.
A transformação da fibras do Tipo IIB para o Tipo IIA ou seja, dentro de um determinado subtipo de fibra muscular é uma adaptação comum no treinamento de força. (G.R. Adams et al; 1993, Staron et al; 1991,1994, Kraemer et al; 1995..
O treinamento de força provoca modificações hipertróficas positivas nas fibras do Tipo I e do Tipo II, sendo que as fibras de características de contração rápida são mais beneficiadas. Fleck & Kraemer; 1988, Tesch; 1988.
As fibras brancas hipertrofiam-se sob a aplicação de treinos de velocidade e de força na presença de estímulos com grande sobrecarga, e reduzido número de repetições. A hipertrofia das fibras lentas, dá-se sob estímulo caracterizado com baixa sobrecarga e um alto volume de repetições, veja quadro 05.
Quadro 05 :
Caracteres | Grau de hipertrofia |
1 a 5 repetições : maior síntese de proteína contrátil (fibra IIB), | níve3 (bom) |
6 a 12 repetições : maior síntese de proteína contrátil + hipertrofia sarcoplasmática (fibras IIA e IIB) | nível 4 (ótimo) |
12 a 20 repetições : maior hipertrofia sarcoplasmática + síntese de proteína contrátil (fibra IIC). | nível 2 (regular) |
20 repetições : hipertrofia sarcoplasmática (fibra Tipo I). | Nível 1 (baixo) |
Hatfield,1985 in Rodrigues; 1990, 1992.
A proporção das fibras musculares pode variar sensivelmente de um grupamento muscular para outro, de individuo para individuo assim como, nas categorias diferenciadas de atletas de elite, em função com a predominância da força, da velocidade ou da resistência no esporte praticado, veja quadro 06 e 07.
Quadro 06 :
Ordem | Músculos | Fibras lentas (ordem decrescente) | |
1 | Sóleo | ||
2 | Adutor polegar | ||
3 | Tibial anterior | ||
4 | Bíceps femoral | ||
5 | Fíbular longo | ||
6 | Deltóide | ||
7 | Gastrocnêmio | ||
8 | Bíceps braquial | ||
9 | Quadríceps | ||
10 | Esternocleidomastóideo | ||
11 | Tríceps braquial | ||
12 | Orbicular dos olhos | ||
Fibras rápidas (ordem crescente) |
Johnson e cols 1973.
"O vasto lateral, reto femoral, gastrocnêmio, deltóide e bíceps braquial, contém aproximadamente 50% de fibras de contração rápida. O sóleo possui 75% a 90% de fibras de contração lenta do que os outros músculos da perna. O tríceps braquial possui mais de 60% a 80% de fibras de contração rápida do que os outros músculos do braço".
Saltin e cols; 1977 in Hay & Reid; 1982.
Percentual das fibras musculares de contração rápida e lenta em atletas. (Músculo quadríceps)
Quadro 07 :
Categoria atlética | % de fibras rápidas | % fibras vermelhas |
Corredores de maratona | 18 | 82 |
Nadadores | 26 | 74 |
Atleta masculino nível médio | 55 | 45 |
Halterofilistas | 55 | 45 |
*Corredores de velocidade e Saltadores | 63 | 37 |
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